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KARL MARX E A EDUCAÇÃO
KARL MARX E A EDUCAÇÃO

 

Marx, a Educação e o projeto de superação da sociedade capitalista

 

     Karl Marx é considerado como um dos maiores filósofos de todos os tempos. Vivenciou e se envolveu nos problemas políticos e econômicos de sua época, testemunhando o crescimento das fábricas e da produção industrial e das consequências desses processos na vida da classe trabalhadora. Participou, ainda, das primeiras experiências de organização e luta da classe operária, das diferentes revoltas ocorridas à época e testemunhou as consequentes repressões aos revoltosos. Suas reflexões se baseavam naquilo que ele observava e, embora não pudesse constatar em vida as suas ideias, é fato que Marx foi um homem de seu tempo que conseguiu enxergar, para além das aparências, como o sistema capitalista se comporta por dentro e a necessidade de sua superação, o que o torna sempre atual.

Sua profícua obra influenciou não somente a Sociologia, mas a História, a Economia, Filosofia, dentre outras, além de ter servido de matriz para o estabelecimento de diversos programas de partidos de esquerda mundo afora. Durante a maior parte do século XX, suas ideias foram alvo de apaixonados debates, tendo sido considerado, por uma enquete realizada pela TV alemã, em 2004, como um dos pensadores mais relevantes do país.

 

Marx e a educação

     Marx, em sua vasta obra, busca explicar como o mundo material, da produção, do trabalho, afeta o mundo da consciência, as representações, o conhecimento e as crenças. Para ele, a consciência está intrinsecamente ligada às condições materiais de vida. No entanto, ela aparece para os homens de forma invertida, numa falsa consciência, como o autor denominou, não sendo, portanto, os homens, capazes de captar a essência das relações. Em cada sociedade, a forma da divisão do trabalho estabelece o lugar que cada um irá ocupar dentro do processo produtivo. E mais: como irá viver, trabalhar e agir. Na sociedade capitalista, real interesse de Marx, a divisão do trabalho põe, de um lado, aqueles que detêm os meios de produção e do outro, aqueles que, ao não deterem nada, têm a única opção que é vender a sua própria força de trabalho para os proprietários dos meios de produção em troca de um salário. Assim, o capitalismo traz à tona duas classes principais: os burgueses (os que detêm os meios de produção) e os proletários (os que vendem a sua força de trabalho).

     A princípio, se pode pensar que não há nada de estranho nessa relação, já que se o burguês não tem a força de trabalho e o proletário não tem os meios de produção seria justo que houvesse essa troca (um, compra a força de trabalho e, o outro, a vende em troca do salário). Todavia, o que Marx buscou mostrar foi que não há nada de justo nessa relação, já que desde o início, o processo de divisão do trabalho e apropriação dos meios de produção foi injusto. E, se as pessoas pensam que isso é normal, natural ou sempre existiu, é porque as ideias dominantes de uma época são as ideias da classe dominante.

   Sendo assim, no capitalismo, a burguesia como classe dominante, além de possuir os meios de produção, de comprar a força de trabalho do proletário por um preço sempre menor do que ele produz, algo que Marx denominou de extração da mais-valia, ainda consegue fazer acreditar que o capitalismo é a única opção possível, que sempre foi assim na história da humanidade e que essa é a melhor forma de conduzir a relação entre os homens.

     Em sua teoria, Marx afirma que a história da humanidade é calcada na história da incessante luta de classes e através da construção teórica dos modos de produção, ele busca demonstrar como a história vem se desenrolando justamente a partir dos conflitos que essas classes vivenciam em cada momento histórico. O autor vem assim afirmar o caráter social dessas construções e, como tal, podem ser desfeitos a qualquer momento pela ação dos homens, não precisando existir para sempre. Para isso, os homens precisariam desnudar os véus que encobrem essas relações. Isso poderia ser feito, em parte, através da educação, que para Marx e Engels, poderia servir tanto para corroborar a alienação como para possibilitar a emancipação humana.

    Entretanto, para chegar a essa conclusão, Marx procurou entender o funcionamento da educação no modo de produção capitalista e para isso foi observar como as escolas da Inglaterra funcionavam. Percebeu que o ensino ofertado às crianças era de péssima qualidade.

     Estas, em sua grande maioria, também eram trabalhadoras, já que a legislação da época permitia que as crianças trabalhassem desde que frequentassem a escola. No livro O Capital, sua obra-prima, Marx descreve uma visita de um inspetor de ensino a uma escola e suas impressões: O mobiliário escolar é pobre, há falta de livros e de material de ensino, uma atmosfera viciada e fétida exerce efeito deprimente sobre as infelizes crianças. Estive em muitas dessas escolas e nelas vi filas inteiras de crianças que não faziam absolutamente nada, e a isto se dá o atestado de frequência escolar; e esses meninos figuram na categoria de instruídos de nossas estatísticas oficiais (MARX apud RODRIGUES, 2001, p.50) (sic)

     Para o autor, esse tipo de escola, em vez de permitir a emancipação humana, faz o contrário: perpetua as condições de opressão a que as crianças já estavam submetidas àquela idade. Isto por que, dependendo do tipo de sociedade que se deseja atingir, a finalidade da educação pode variar. Na sociedade capitalista, a escola reforça os valores da classe dominante e ajuda a perpetuar as relações de exploração. Ao empreender seu estudo sobre as condições de trabalho da classe operária em meados do século XIX, Marx também criticou a exploração a que as crianças estavam submetidas. Ainda em O Capital, Marx citando o caso de um garoto que trabalhava durante muitas horas ininterruptas diariamente, escreve: “quinze horas de trabalho por dia para um garoto de 7 anos!”

    Engana-se, no entanto, quem pensa que Marx discordava de que as crianças não devessem trabalhar. Ele acreditava que era necessário combinar uma educação escolar com o trabalho na fábrica, já que a combinação trabalho manual com trabalho intelectual permitiria reaver aquilo que o capitalismo havia apartado de vez: a possibilidade de o trabalhador tomar para si o processo produtivo como um todo. Somente através dessa junção é que, de fato, o trabalhador poderia combater a alienação sofrida por ele.

 

Fonte: GONÇALVES, D.N. et. al. Sociologia da Educação. 2 ed. SEAD/UECE, 2010. 

 

Atividade: Leia a letra da música e responda as perguntas a seguir:

 

Fábrica (Legião Urbana)

 

Nosso dia vai chegar,

Teremos nossa vez.

Não é pedir demais:

Quero justiça,

Quero trabalhar em paz.

Não é muito o que lhe peço -

Eu quero um trabalho honesto

Em vez de escravidão.

Deve haver algum lugar

Onde o mais forte

Não consegue escravizar

Quem não tem chance.

De onde vem a indiferença

Temperada a ferro e fogo?

Quem guarda os portões da fábrica?

O céu já foi azul, mas agora é cinza

O que era verde aqui já não existe mais.

Quem me dera acreditar

Que não acontece nada de tanto brincar com fogo,

Que venha o fogo então.

Esse ar deixou minha vista cansada,

Nada demais.

 

A partir da análise da música acima:

 

1. Aponte os conceitos, elaborados por Marx, presentes na composição. 2. Como ela traduz o pensamento marxista?

3. Com base no pensamento marxista, como é possível que a educação seja emancipadora e não alienante?

4. Por que para Marx era importante que o trabalhador pudesse retomar o processo produtivo?

5. A partir das proposições de Marx, explique por que a escola deveria ser pública e não estatal.

 

 

 

Para saber mais sobre a teoria de Marx.

 

No capitalismo, o trabalhador vende sua força de trabalho em troca de um salário. No entanto, ele não percebe que foi transformado em mercadoria e desumanizado. O fruto do seu trabalho não lhe pertence, mas a um outro. As mercadorias, produzidas por ele passam a serem maiores e exteriores ao trabalhador, não permitindo que ele se reconheça nelas. Este é o fenômeno da alienação.

 

Marx afirma o seguinte: Isso de ‘educação popular a cargo do Estado’ é completamente inadmissível. Uma coisa é determinar, por meio de uma lei geral, os recursos para as escolas públicas, as condições de capacitação do pessoal docente, as matérias de ensino, etc., e velar pelo cumprimento destas prescrições legais mediante inspetores do Estado, como se faz nos Estados Unidos, e outra coisa completamente diferente é designar o Estado como educador do povo! Longe disto, o que deve ser feito é subtrair a escola a toda influência por parte do governo e da Igreja (MARX, s/d).

Os meios de produção são as máquinas, matéria prima, ferramentas de trabalho, meios de transporte, instalações etc.